14 Março 2022
Na quarta-feira, 09-03, o Vaticano anunciou sem nenhuma explicação que o Papa Francisco havia “dispensado” dom Daniel Fernández Torres “dos cuidados pastorais” da Diocese de Arecibo, em Porto Rico. O bispo tem apenas 57 anos, quando a idade de aposentadoria é de 75.
Fernández Torres, que liderou a diocese por 12 anos, se opôs à vacina contra a covid-19 e abertamente assinou isenções religiosas para as pessoas que não queriam se vacinar.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 09-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em agosto, quando a conferência dos bispos porto-riquenhos redigiu uma instrução pastoral sobre a importância moral de tomar a vacina, eles tiveram que começar o documento dizendo: “Nós, seis dos sete bispos católicos da conferência episcopal de Porto Rico julgamos oportuno nos expressarmos colegialmente sobre um assunto que, embora pudesse ser um sinal de grande esperança para a humanidade, infelizmente se tornou controverso: a questão da vacinação contra a covid-19”.
O Papa Francisco é um defensor público da vacina contra a covid-19, chamando-a de “ato de amor” e ordenou que todos os funcionários do Vaticano a recebessem.
Fernández Torres também foi acusado de se recusar a transferir seminaristas de sua diocese para o novo Seminário Interdiocesano de Porto Rico, e foi o único prelado que não assinou várias declarações feitas pela conferência episcopal, incluindo uma de proibição nacional da Missa Tridentina, emitida após a publicação do motu proprio Traditionis custodes, que limita o uso da liturgia tradicional latina. O bispo também expressou sua oposição a um projeto de lei que proibiria a “terapia de conversão” para homossexuais.
“Se tentando ser fiel a Deus sou substituído, vale a pena, porque como bispo posso ser útil à Igreja com meu próprio testemunho. Lembro-me das palavras de São João de Ávila: ‘como nos sentimos honrados por sermos desonrados ao buscar a honra de Deus’”, disse o bispo depois que sua demissão foi tornada pública.
Em declarações escritas, Fernández Torres explicou que estava sendo acusado de não ser obediente ao Papa Francisco e de não estar em comunhão com os demais bispos porto-riquenhos. A essas alegações, ele respondeu: “Sinto-me abençoado por sofrer perseguição e calúnia”.
O prelado escreveu que não lhe cabia explicar uma decisão que ele mesmo não entende, mesmo que a aceite “com a paciência de Cristo para o bem da Igreja”.
Tampouco cabe a ninguém julgar “o que só Deus e a história” julgarão quando for a hora certa, disse ele.
Fernández Torres também escreveu que sai do serviço de cabeça erguida e com paz interior.
“Lamento muito que na Igreja onde a misericórdia é tão pregada, na prática alguns carecem de um senso mínimo de justiça”, escreveu ele, presumivelmente se referindo ao próprio papa, que fez da “misericórdia” um tema de seu papado.
O prelado disse também que nenhum processo foi realizado contra ele, nem foi formalmente acusado de nenhum crime. Em vez disso, o Delegado Apostólico informou-o verbalmente que “Roma estava pedindo minha renúncia. Um sucessor dos apóstolos agora está sendo substituído sem sequer empreender o que seria um devido processo canônico para remover um pároco”, explicou.
“Fui informado de que não havia cometido nenhum crime, mas que supostamente ‘não fui obediente ao papa nem tive comunhão suficiente com meus irmãos bispos em Porto Rico’”, explicou ele.
Sugeriram-lhe que apresentasse a sua demissão do ministério pastoral da Diocese de Arecibo, para que “ficasse ao serviço da Igreja” para ser nomeado para outra coisa se alguma vez fosse necessário.
“Uma oferta que de fato prova minha inocência. No entanto, não renunciei porque não queria me tornar cúmplice de uma ação totalmente injusta e que, mesmo agora, estou relutante em pensar que isso possa acontecer em nossa Igreja”, disse ele.
Depois que a decisão do Vaticano foi anunciada, Fernández Torres – ele foi afastado do cargo, mas não do ministério público – escreveu que “esta experiência pessoal, por outro lado, me ajudou a perceber de uma maneira nova a séria responsabilidade que todos nós os bispos têm no governo da Igreja, que é apostólico e não piramidal, sinodal e não autocrático”.
“Acredito que há algum tempo muitos de nós, bispos, observamos com preocupação o que está acontecendo na Igreja e relutamos em acreditar no que está acontecendo”, disse ele, em uma clara referência a muitos bispos mais conservadores que não se importam pelo estilo de governo e decisões do Papa Francisco.
O bispo será substituído temporariamente por dom Álvaro Corrada del Río, prelado emérito de outra diocese porto-riquenha.
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Porto Rico. Papa Francisco remove bispo antivacina que se recusou a pedir renúncia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU